A seleção dos livros canônicos foi feita de uma maneira meramente formal?




Trecho do livro: A Heresia da Ortodoxia – Andreas J. Köstenberger e Michael J. Kruger, São Paulo: Vida Nova, 2014. pp. 163-164.



Primeiro, em ralação aos livros da aliança, eles foram produzidos pela a ação do Espírito Santo e, portanto, são textos vivos, ativos e eficazes (Hb 4:12). Uma vez que esses livros vêm de Deus, são, por assim dizer, investidos dos atributos de Deus e identificados por esses atributos. Segundo, em relação à comunidade da aliança, ela também é resultado da ação do Espírito Santo. Ele regenerou o coração e a mente do povo de Deus para que estejam sintonizados à sua voz: “[Minhas ovelhas] ouvem a minha voz [...] e elas me seguem” (João 10:27). Portanto, é essa atuação do Espírito Santo que permite aos membros da comunidade da aliança perceber a voz de Deus falando nos livros da aliança¹.



É esse o paradigma teológico – um paradigma compartilhado pelos primeiros cristãos – que, mais uma vez, contribui para transformar nossos conceitos acerca da origem do cânon ser algo formalmente “selecionado” pelas gerações posteriores da igreja (e, portanto, basicamente uma criação humana), tudo indica que, de certo modo, as escrituras se impuseram à igreja como testemunho poderoso do Espírito Santo neles. Se o Espírito de Deus operava tanto nesses livros quanto nas primeiras comunidades cristãs que os receberam, então era de se esperar que o conceito de cânon fosse um desdobramento natural, presente logo no início do cristianismo.


Logo, o cânon é um fenômeno que não se desenvolveu fundamentalmente em virtude de decisões formais da igreja (embora não possamos minimizar o papel vital da igreja), mas em decorrência de algo inerente a esses livros específicos: o poder do Espírito Santo. Como Cullmann afirmou acertadamente: “Dentre os muitos textos cristãos, os livros se impuseram à Igreja por sua autoridade apostólica intrínseca, como ainda fazem, porque o Cristo Kyrios fala neles”². Por causa da atividade do Espírito Santo, podemos concordar com Dunn quando declara: “Em um sentido bastante real e importante, os principais documentos do NT escolheram a si mesmos, o cânon do NT escolheu a si mesmo!”³.


1-    R.C. Sproul, “The Internal Testimony of the Holy Spirit”, in Inerrancy, Ed. Norman Geisler (Grand Rapids: Zondervan, 1980), p. 337-54. [Edição em Português: “O testemunho Interior do Espírito Santo”, in Inerrância, editado por Norman Geisler, traduzido por Antivan G. Mendes. São Paulo: Vida, 2003, p 339-422].

2-      Cullmann, “Tradition”, p. 91 (grifo no original).

3-      James D.G. Dunn, Unity and Diversity in the New Testament: An Inquiry into the Character of Early Christianity, 2. Ed. (London: SCM, 1990), p. xxxi. [Edição em Português: Unidade e Diversidade no Novo Testamento. Um Estudo das Características dos Primórdios do Cristianismo, traduzido por José Roberto C. Cardoso, Santo André: Academia Cristã, 2009].

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